terça-feira, 12 de março de 2013

Dez anos de gastroplastia






Dez anos de um dia que foi um marco da mudança. Por que este dia não foi a mudança. Esta começou antes, gradual e silenciosa. Acho que nem sei ao certo quando.

Aqui vou aproveitar esta fase de comemoração e falar sobre o assunto, abordar tópicos. Até por que: recordar é viver, e reviver é reaprender. Estou precisando.

Então, vou começar falando do "antes", tentar recriar a linha do tempo. Por que sempre tem as fotos de ANTES e DEPOIS, como se fosse uma mágica de photoshop. Não é.

Menina magrinha, até os 19 anos, mais ou menos. Dançava, fazia jazz, adorava esportes, jogava vôlei, basquete (do alto de seus incríveis 1,60m). Não ficava parada. Estava sempre pulando, andando de bicicleta, patins, jogava futebol, queimada. Se não estava fazendo esporte, estava me mexendo de alguma forma.

Família com histórico de obesidade. Minha mãe sempre procurou dar uma alimentação natural, saudável. Mas eu comia de tudo, sem restrições, incluindo muito junk food. Cheguei a ir ao Mcdonalds e comer 2 big macs, batata, sundae e torta de maçã. Contar calorias? Para que, se eu podia era contar minhas costelas?

Achava chique quem fazia dieta. Era como pertencer a um clube seleto. Mas que puta cretinice, né? Mas é aquilo: quando quase todos fazem dieta, você se sente de fora se é quem pode comer de tudo e não engordar.

E assim, fui criando uma vida de péssimos hábitos alimentares, por que eu era abençoada por um metabolismo acelerado. Ledo engano.

Veio a faculdade, comecei a trabalhar, diminuí os esportes. Mas o ganho de peso ainda era algo controlável. E assim foi por mais alguns anos.

Cheguei aos 24 anos com sobrepeso. Nada demais, certo? Errado.

Casei e então veio um período difícil em vários aspectos: familiar, de grana, de trabalho, de relacionamento, de ajustes, de saúde. Não vou entrar em detalhes, por que não vou escrever biografia, nem quero mexer em história que envolve outras pessoas e nem terapizar aqui. Até por que, uma coisa que aprendi bem foi: você é responsável pelo que você faz consigo mesmo ou com o que permite que façam com você. E que, mudar isto, também é responsabilidade sua. Apenas sua. Mas foi uma sucessão de coisas que eu não trabalhei bem na minha cabeça e fui engolindo, engolindo, engolindo... E engordando, engordando. Como todo gordo, tinha momentos em que emagrecia, fazia regimes, dietas, caía na malhação desvairada. Ficava fininha, mas não durava.

Com uns 27 anos fiz Meta Real. Não consegui emagrecer o quanto queria. Não estava pronta. Mas tudo que aprendi lá, com a minha instrutora Roseli Masi, tão sábia, eu levei comigo, apliquei e aplico até hoje e posso dizer que é uma das coisas que fez grande diferença para manter-me magra até hoje, depois da cirurgia. Mas não ter conseguido, naquela época. Me fez sentir ainda mais frustrada e segui engordando.

Chegamos ao ano de 2003 e aos meus 104 kg.

Em algum momento entre 2002 e 2003 fui fazer uma viagem ao PETAR. Trilhas e cavernas. Programa não muito indicado pra quem está fora de forma. Na primeira caverna, que nem era assim selvagem, pois tinha escadas, corrimão, etc, paramos em um platô. O guia pediu que apagássemos as lanternas e fizéssemos silêncio. Nunca fiquei num escuro absoluto, nem no silêncio absoluto. Foram poucos minutos, mas o suficiente. Não, eu não vi minha vida em flashes, nem ouvi vozes, nem tive visões de nada sobrenatural.

Mas naquele silêncio e naquele escuro, eu me vi e me ouvi. Não tive nenhuma mensagem reveladora claramente, mas ali, o botão fez clique. Então, voltamos da viagem e comecei a ver tudo a minha volta.

Casamento já estava encerrado, mas eu não havia enxergado. No trabalho eu me sentia sufocada, mas não enxergava. Eu queria mudar coisas, mas buscava a mudança fora. Em algumas situações me colocava de vítima, como se não tivesse qualquer poder sobre qualquer situação. Comecei a enxergar isto com mais clareza. Nesta época, também já tinha lido alguns livros que foram me ajudando a mudar minha cabeça, participei de palestras, fui angariando preciosas informações.

Minha irmã fez a cirurgia primeiro, em janeiro de 2003. Ainda no pós, ela ficou insistindo para eu fazer também. Eu me negava, nem queria falar do assunto. Ficava irritada. Um dia ela me ligou e discutimos por telefone, por conta disto. Eu ainda no trabalho. Era tarde, peguei o carro e fui pela Marginal Pinheiros, puta de la vida. Em casa, liguei a TV e passava um telefilme que eu não dei muita atenção. Até que ouvi o protagonista gritando que conseguia parar quando quisesse, que tinha o controle, que não precisava de ajuda. Parei para ouvir. Era uma pessoa com adicção à cocaína, a vida estava em frangalhos, ele afastava família, amigos, se afundava, e não conseguia parar. Ali sim, tudo fez sentido. Por que eu me recusava a pensar na possibilidade de operar, de discutir o assunto.

Por que eu não queria pedir ajuda, queria conseguir sozinha, não queria me sentir fraca, eu ainda me importava com o que as pessoas pensariam.

Mas por que me achava fraca por pedir ajuda? E daí que eu fosse uma leoa, forte, determinada pra tanta coisa, INDEPENDENTE, mas que, sim, precisava de ajuda para emagrecer ???

Ninguém é independente o tempo todo, ninguém é uma ilha, ninguém é forte o tempo todo. E por isto, bastava daquela couraça de gordura que me "protegia", mas me sufocava.

Chorei muito naquela noite. Deixei me lavar por dentro e por fora. E decidi ser feliz. Por que ser feliz é uma decisão, de dentro para fora.

No dia seguinte comecei a ver a questão da cirurgia, marquei consulta. Operei em março de 2003.

Aí ficou claro que tudo ia mudar, por que depois que você aprende, de fato, algo dentro de você, não tem mais volta.

Quando você encontra sua força, nada pode parar você.

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