quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sampa - Feliz aniversário


Minha cidade, hoje, faz aniversário.

Minha e de minha filha. Em 2008, mesmo que fôssemos nos mudar para o Rio, eu e Luciano decidimos que Clarinha nasceria em Sampa.

E, desde então, mostro para ela que cidade é esta, onde ela nasceu. Mostro meu amor por Sampa e assim minha filha vai crescendo e entendendo de onde veio.

O amor por esta cidade é difícil de se colocar em palavras. Acho que Sampa representa claramente aquele conceito de que nossas maiores qualidades podem ser nossos maiores defeitos também. E, em muitos momentos, ela desmente suas famas.

Cosmopolita, cidade fria, de concreto, mas que acolhe a todos, como ninguém. Até quem pra lá precisa ir, acaba ficando, gostando e depois não quer mais ir embora. Transpirando cultura, cheia de movimentos sociais, mas também é cidade que algumas vezes oprime, desmotiva. Cidade que tem pressa, sempre correndo, mas cujo trânsito cada vez mais engessa, imobiliza. Porém, quando vemos uma foto aérea deste trânsito, de noite, as ruas se parecem com as artérias e veias de um gigante que respira, vive e sobrevive a todos os maus tratos que seus governantes impuseram. Graças ao trabalho de cada um dos seus paulistanos e de seus moradores.

A cidade que todos amam odiar. Cidade defendida com unhas e dentes por seus filhos.

Cidade grande, imensa, mas que cada bairro se comporta como cidade do interior. Talvez por isto ela seja encantadora. Poluição, barulhos, mas que, em muitos lugares, somos acordados pela conversa dos passarinhos. Aliás, como ela tem sons! Barulhos, músicas, todas as línguas faladas em qualquer lugar. Tudo vibrando, o tempo todo.

Cidade em que as pessoas não se olham, ninguém enxerga o outro, um exército de andróides sem identidade marcham. Mas também cidade onde você cria as mais fortes amizades, onde as pessoas mostram sua solidariedade, sua humanidade nos momentos mais inesperados.

Cosmopolita mesmo. Acolhe a todos, sem distinção. Aqui temos todas as tribos, todos os estilos. Você pode ser como você quiser ser e não se sentirá excluído. Sempre encontrará um lugar para ir, encontrar sua tribo, comprar suas coisas. Será também esta a razão de tantos amarem assim esta cidade? Ela é madrasta, mas acolhe como mãe.

Sampa não dorme. E como isto é bom! Você encontra tudo, a qualquer hora! E de qualidade! Mas também é cidade que se espreguiça, adere a tardes modorrentas, de contemplação à beira do lago do Ibirapuera, numa praça ou, simplesmente, num banco do metrô.

Acho que o melhor de Sampa é que seu povo vive seus defeitos, porque o progresso neles contido é inexorável. Mas seu povo luta, incansavelmente, contra as consequências deste progresso que são a alienação, a falta de emotividade. Um povo que se solidariza, cria vínculos, se compromete, se envolve.

Na esperança de continuar crescendo, "pero sin perder la ternura jamás"...

Aliás, revendo o texto percebo que escrevi "aqui", ao falar de Sampa. Moro no Rio, com minha família desde 2008, mas Sampa nunca saiu de dentro de mim, não é?

Que bom, que bom.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Aceita uma xícara de chá ?

Domingo. Dia de descanso.

Dia, ou melhor, a noite em que,de fato, dei início a este blog.A idéia do blog é falar sobre qualquer assunto. Com menos drama.

Esta foi uma semana de muitos assuntos nas redes sociais: Pinheirinho, Cracolândia, BBB, maus tratos a animais, menos da Luisa que estava no Canadá... Aliás, por causa da Luísa, percebi quantas pessoas de meu convívio real e virtual fazem drama por pouco. Luisa foi uma piada involuntária. Ou não. Mas que gerou inúmeras piadas, muitas delas extremamente criativas e divertidas. E então veio uma enxurrada de pessoas reclamando que já fomos mais inteligentes e andamos mais alienados por brincarmos e darmos corda pra Luisa. Devem ser pessoas que não jogam conversa fora numa mesa de bar, bebendo um chopp, que não assistem nenhum programa fútil, que não ficam à toa numa rede no final da tarde e que não possuem nenhum guilty pleasure.. Afinal, o mundo está em crise, precisando de pessoas engajadas, atuantes, politizadas. Intelectuais profissionais que nunca contam piadas, nem riem de nada, muito menos de si mesmos, o que é uma pena.

Viram? 37 não é febre. Menos drama e um pouco de bom humor diário. Devia ter receita médica pra isto.

Então, num domingo a noite, precisei de uma xícara de chá, pra desanuviar. Me dei uma xícara de chá de camomila. Adoro o som da xícara de porcelana sendo colocada no pires. Me traz muitas lembranças.

Enfim, meu pensamento voou, como sempre, na velocidade da luz. E resolvi falar aqui sobre medo, que muitas vezes anda junto com o drama.

Esta semana enfrentei com minha filha algumas noites de "medo de ter pesadelo, medo do escuro, medo, medo". Medos naturais, da idade. Nada sério e nem as reações dela foram graves.

Medo se combate. Primeiro é preciso legitimá-lo, depois desconstruí-lo. E, quando tudo mais falhar, o jeito é conviver com eles. Com a criança nesta idade vamos usando a razão, argumentos para mostrar que é possível vencê-los, mostrar como a criança pode ser mais forte que seu medo. Tudo isto, sempre, sempre mesmo, embalado com algo muito importante: um abraço. Sim por que, na hora do terror, precisamos abraçar a criança, confortá-la, fazê-la sentir-se segura, para então, calmamente, falar do assunto.

Parei pra pensar sobre os medos, porque eu também os tenho. Todos temos. Foi um de meus medos que me fez precisar de uma xícara de chá. Me sentei, bebi meu chá, ouvi o som da porcelana, me deixei levar por suas boas lembranças, pensei sobre meus medos, racionalizei sobre eles e depois pensei sobre este texto.

Comecei a escrever num bloquinho, antes que as idéias fugissem. Tracei paralelos sobre como crescemos e continuamos tendo que aprender a lidar com os medos diariamente. Coragem não é a ausência de medo, mas sim enfrentá-los. Então nos sentimos vivos, fortes, renovados.

Então, mesmo que não estivesse mais com medo, fui dar um abraço no meu marido, porque abraço sempre é bom. E fui dormir rindo, pensando na ironia de tentar ensinar para minha filha mais uma coisa que eu, ainda, estou aprendendo a fazer.

Hoje começou uma nova semana. E eu a inicio com menos medo, com o habitual bom humor e sem drama. E, se eu sentir medo novamente, refletirei sobre eles, ao som de uma xícara de porcelana com chá reconfortante; ou pedirei um abraço; ou tudo isto junto.

 Boa semana!